Não é que não tenha alguma coisa mais a dizer sobre a manifestação anti-NATO Lisbon Summit de ontem. Sobre os seus objectivos, circunstâncias e ramificações. Limito-me no entanto a uns quantos tópicos. 1) É necessária uma censura atenta e audível da NATO e das suas políticas, muitas vezes perigosas e falhadas, mas é preciso também considerar o papel que uma organização armada de Estados legitimados pelo voto pode ter como força dissuasora da violência de matriz política, religiosa ou étnica. 2) Podemos em muitos casos ser «contra a NATO»; agora ser pelo seu «fim» ou pela sua «dissolução» é quase tão absurdo, inútil e perigoso como ser pela «extinção da França» ou exigir nas ruas e nas praças a «dissolução da China, já!». 3) Pior do que ser acrítico em relação ao papel da NATO, cujos responsáveis podem responder publicamente pelos seus actos, é ser, como dúzia e meia de espalhafatosos de keffieh a tiracolo, a favor dos grupos de radicais islamitas que lhe alimentam a razão de ser. 4) Concordo com o carácter absoluto do direito de manifestação, salvo se os manifestantes atentarem contra os direitos e as liberdades do outros, mas alguns dos sectores que participaram no desfile entenderam que só seria legítimo protestar sob as palavras de ordem e as bandeiras que consideram sãs e escorreitas. 5) Presumo que a mistura de pessoas de diferentes motivações e feitios, genérica e erradamente designada pela comunicação social como «anarquistas», mais não fez do que exibir, com uma natural teatralidade, posições legítimas. 6) A obsessão securitária da polícia portuguesa foi essencialmente motivada pela vontade saloia dos nossos governantes de mostrar «aos grandes» que não ficam atrás «do melhor que se faz lá fora» e merecem pelo menos uma menção honrosa. No final desmontou-se o palco, a poeira assentou e ficaram os ecos.