e-Hobsbawm

Karl Marx Strasse

Os grandes leitores reconhecem a mania de comprar livros no exacto dia do seu lançamento. Não pelo capricho banal de bibliófilo, cioso sempre das suas primeiras edições, ou por se não ter algo de realmente urgente para fazer: sabem perfeitamente que é antes por tanto quererem olhá-los, tocar-lhes, enfim lê-los, que não resistem a esperar mais algum tempo e se põem a caminho da loja mais próxima. Partilhando durante muito tempo desta compulsão, circunstâncias várias fizeram com que a fosse perdendo. Recuperei-a há poucos meses. Às nove exactas horas de uma manhã de Janeiro passado, tinha já a palpitar entre os dedos, em formato de e-book, um livro recém-saído de Eric Hobsbawm, acabado de comprar na loja online da Amazon.

How to Change the World: Tales of Marx and Marxism, editado pela Little, do Brown Book Group, é basicamente uma grande compilação, de quase 500 páginas, contendo artigos escritos entre 1956 e 2009 pelo grande historiador britânico de 93 anos. O volume passa por distintos momentos do percurso político e filosófico do autor, ocupando-se também de fases diferentes do trajecto e do impacto mundial da obra de Karl Marx. Trata ainda, sem complexos, a fase de recuo desta influência que Hobsbawm julga ter começado em 1983. A data-charneira foi escolhida pelo seu peso simbólico: evocava-se nesse ano, quase em silêncio e sem quaisquer pompas, o centenário da morte do alemão. O que parece realmente único é o facto deste regresso a Marx ter sido produzido no contexto de uma realidade tecnológica e de processos de troca impraticáveis e mesmo impensáveis no tempo do filósofo de Trier, ou sequer durante os anos centrais da vida, da pesquisa e da reflexão de Hobsbawm.

A compra e a leitura de e-books proporcionam este paradoxo: viajar num segundo entre dimensões radicalmente diferentes do processo de construção, de circulação e de apreensão da obra escrita, reposicionando ao mesmo tempo o seu próprio conteúdo.

    História.