Dados os antecedentes, acredito que o poeta, escritor, cronista e ex-jornalista Manuel António Pina – ou o seu pseudónimo, e nem ele mesmo poderá garantir qual deles – se sentirá bastante preocupado com a atribuição do Prémio Camões de 2011. Ao contrário de nós, seus leitores, admiradores e «fiéis sequazes», que ficámos só muito felizes.
Então, para que conste, siga-se esse alguém:
AVISO À NAVEGAÇÃO
É altura de sair do armário e fazer uma revelação particularmente penosa: sou um pseudónimo. Na verdade, eu não sou eu. Nem outro, nem qualquer coisa de intermédio, nem «pilar da ponte de tédio/ que vai de mim para o outro». Uso um nome suposto, só por acaso coincidente com o do BI, porque não sei, como o taoista, que nome tenho.
Um leitor (aliás cordialíssimo) responsabiliza-me por uma crónica aqui assinada pelo pseudónimo sobre a hipocrisia do jornalismo. Estou cansado que me confundam com o pseudónimo. Já cheguei, num café, a ser chamado de «fascista», de «populista» e até de «católico» pelo vice-presidente de uma bancada parlamentar (sou sempre eu quem paga as favas, porque o pseudónimo existe apenas duas ou três horas por dia, diante do computador, e não vai ao café).
Num pequeno texto intitulado Borges y yo, o autor de Le regret d’Héraclite, quem quer que seja, revela que tem uma existência pacata e que tudo o que lhe acontece se passa com outro, um tal Borges. Comigo é igual. Estou farto (acho que já o disse, ou terá sido o pseudónimo?) de ser confundido com o autor daquilo que escrevo.
JN, 16.04.2009