sei que não são todos iguais, mas a excepção faz a regra. não gosto, não gosto mesmo, de políticos em campanha. por muito honestos que sejam ou aparentem ser, nas suas propostas como nas suas vidas, existe sempre um sorriso a mais, uma palmada nas costas que parece supérflua, um beijinho claramente excedentário, um panfleto que se impõe a contragosto, um cheiro, ainda que ténue, a axila e a demagogia do qual bem podemos prescindir. pior ainda é o espectáculo dado por muitos daqueles que os recebem lá na terra ou no bairro. com banda trajada a preceito, criteriosas palavras de circunstância e uma incontida alegria artificial, lá estão eles nas praças e nas ruas à espera do audi, vestidos de varinas, de bombeiros, de moços-forcados, de noivas minhotas, de judocas, de meio-maratonistas, de zés-pereiras, de mulheres partidárias, de jovens jotas, de povo-povo, com lenço e boné a condizer com a cor da bandeira. e há depois os mega-almoços, com cantores entre o proto-pimba e a pós-intervenção, copos de plástico atestados de sumol de ananás, croquetes marados, feijoadas mete-nojo, azeitonas manhosas e pães com manteiga que todos enfiam na boca atulhada enquanto se tratam por companheiros, por camaradas, por ó pá, ó doutor, ó engenheiro, olhe qu’agora é que vai ser. as campanhas, digo-vos eu, deviam ser interditas a grandes grupos. afinal sempre há a televisão, a internet, os jornais, a caixa do correio, a sessão de esclarecimento, os outdoors identificados, ou o contacto porta-a-porta como o fazem os mórmones, as testemunhas de jeová, os angariadores da cabo-tv e os mordomos das festas da padroeira. deveria criar-se um serviço grátis de desintoxicação eleitoral. e uma ponte aérea para que todos nós, os democratas do ano inteiro, pudéssemos emigrar nestas alturas para uma estância termal nas ilhas faroë. retornando, claro está, a tempo de votar em quem merece. ou quase.