Não é apenas por ser Verão e o número de cidadãos alheados dos infortúnios do mundo aumentar sempre com os calores da estação. Também nos meios habitualmente activos e interessados na mudança parece existir um pacto de silêncio em relação ao que está a acontecer agora mesmo em dois Estados do Oriente Médio. Na Síria, as cidades são bombardeadas sistematicamente pelo exército enquanto os manifestantes pró-democracia, presos, torturados ou simplesmente assassinados – «financiados pela CIA», bradam os mensageiros do costume – esperam em vão por iniciativas diplomáticas que ninguém toma. Fica assim o tirano Assad com as mãos livres para fazer o que bem lhe apetece. Uma boa prova de que do «não-intervencionsimo absoluto» pode resultar uma efectiva cumplicidade com o crime mais ignóbil. Em Israel, manifestações com uma dimensão sem precedentes questionam na rua as políticas sociais do governo, mas a solidariedade de quem do lado de cá se bate por idênticas causas permanece muda, queda e invisível. Outra prova de que do «anti-semitismo primário» facilmente pode resultar uma grande capacidade para confundir o justo com o injusto. Em ambos os casos, o activismo selectivo, mais preocupado com os meandros da política interna e os equilíbrios geoestratégicos, com o que importa invocar e o que interessa calar, do que com a vida efectiva das pessoas concretas, convive pacificamente com a iniquidade. Cala e por isso consente.