CCCP – Cosmic Communist Constructions Photographies é um álbum da Taschen que nos mostra, fotografados por Frédéric Chaubin, noventa edifícios estatais da União Soviética erguidos sensivelmente entre 1970 e 1990. Logo após a revolução de Outubro, a construção destinada ao alojamento de serviços públicos tornou-se uma prioridade do Estado; tratava-se de conceber e de organizar em larga escala todo um universo arquitectónico incandescente, em condições de projectar as possibilidades utópicas que a nova ordem política pretendia dinamizar. Os anos vinte corresponderam, por isso, a uma fase exuberante de crescimento da arquitectura soviética, fortemente influenciada pelas concepções suprematistas (a explosão controlada de formas geométricas) e construtivistas (projecções selváticas, ângulos provocatórios). A ascensão da rigidez formal do período estalinista, contudo, poria fim a essa dimensão de ousadia, conformando-a aos cânones do realismo socialista e acentuando-lhe a funcionalidade política, enquanto instrumento de propaganda e de ostentação do poder. Gigantismo e previsibilidade caminharam então a par, durante as décadas de 1930-1940, dando lugar a construções geralmente insossas, cinzentas, hoje completamente desinteressantes do ponto de vista artístico.
Aquilo que as duas últimas décadas da história da URSS trouxeram de novo a esse cenário desolado foi uma espécie de compromisso entre as intenções revolucionárias que tinham dominado o arranque heróico do regime e a aceitação da ténue abertura política e estética que acompanhou o período kruchtcheviano do «degelo» e acelerou nos últimos quinze anos da governação soviética. Foi pois com os vestígios insuspeitados a ocidente deste ressurgimento de uma certa monumentalidade pública que deparou Chaubin quando em 2003, passeando como vulgar turista por um mercado popular de Tbilisi, a capital da Geórgia, deparou com um livro usado, contendo muitas imagens, que a testemunhava: «foi como se tivesse encontrado um monumento desconhecido, um Machu Picchu à minha medida». Resolveu então fazer uma longa viagem por diversas repúblicas da ex-URSS à procura da identificação fotográfica desses vestígios estranhos, imponentes mas também fascinantes.
Encontrou um enorme conjunto do que deveriam ter sido majestosas construções públicas, destinadas, à velha maneira autocrática que Moscovo preservou, a impressionar as populações locais. Mas, ao mesmo tempo, ocupadas com funcionalidades a uma escala que os governos das repúblicas soviéticas estavam a perder a capacidade de assegurar: palácios governamentais, teatros e casas das artes, museus, academias e complexos desportivos, sanatórios e alojamentos de férias para os apparatchiki, complexos e laboratórios científicos, estâncias termais, crematórios, casas de pioneiros. Tudo concebido em dimensões colossais, seguindo linhas ousadas em relação à construção comum, embora projectadas para lugares decrépitos, quando não totalmente despidos e inóspitos.
A sensação permanente na visualização deste álbum magnífico é a de depararmos, entre cenários rudes e aparentemente imóveis, com ovnis espectaculares destinados a contrastar com eles. Mas ovnis esvaziados de tripulantes, já que a generalidade daquelas construções se encontra agora desactivada e em acelerado estado de degradação. Incluindo-se neste grupos os diversos «palácios dos casamentos», destinados a impedir o regresso dos novos casais ao cerimonial religioso: agora estes preferem mesmo os verdadeiros locais de culto, em alguns casos a simplicidade de um notário. Exemplar desta decrepitude e esvaziamento funcional é o Teatro de Arte Dramática Fiódor Dostoievski, construído em 1987 em Veliki Novgorod: a sua enorme massa branca, misto de mosteiro, fábrica e centro de serviços, encontra-se agora ao abandono, mas a torre cilíndrica que se pode ver à esquerda na fotografia [imagem seguinte] foi demolida em 2008. Nos últimos anos vinha servindo de trampolim para os suicidas.