Quem experimentou viver a um mesmo tempo o poder do amor e o da crença na ideia da revolução redentora sabe o que significa ter na mão o futuro, todo o futuro, o próprio e o da humanidade inteira, incandescente, combinado num único destino e numa só certeza. Em Baku, Olivier Rolin conta a propósito desta sorte um episódio que retirou de um texto autobiográfico de Banine, a escritora francesa de origem azeri. Quando em 1920 o poder dos sovietes chegou à região, Banine e uma prima, ambas com quinze anos, «uma tímida e a outra estouvada», as duas muçulmanas e filhas de ricaços locais, deixaram-se seduzir pelos ideais e pelas figuras esguias de dois jovens bolcheviques, revolucionários ateus, recém-chegados de longe para tratar das expropriações. Foi pois «de emblema de Lenine espetado nos vestidos de verão» que na altura aceitaram fazer parte da comissão incumbida de inventariar as vivendas da sua própria família. Não pensaram duas vezes nas consequências da sua escolha, embora depois acabassem por perder os namorados, as propriedades e a própria terra onde haviam nascido. Não podiam tê-lo pensado naquele momento das suas vidas.