Quando lemos a notícia que nos informa do facto de alunos com necessidades educativas especiais irem passar a fazer os mesmos exames que os outros estudantes – após terem sido tomadas medidas que já reduziam ou anulavam a existência de turmas e de professores vocacionados para o acompanhamento pedagógico desses jovens – começamos a acreditar na existência de uma qualquer perversão, ou no mínimo uma falha grave de equilíbrio emocional, nas pessoas que nos governam e decidem medidas desta natureza. Esses alunos, até há pouco protegidos devido às naturais dificuldades e à necessidade de neles se relevarem competências muito específicas, inevitavelmente diversas e mais condicionadas dos que as da maioria, vão pois ficar marcados desde cedo pelo falhanço e pela incapacidade de se valorizarem.
Todos sabemos das condições difíceis, do caráter forçoso, e em alguns casos até justificado, de se cortarem certas despesas, de se mudarem algumas práticas. Mas fazer isto, desta maneira, justamente sobre os direitos dos mais fracos, dos que não podem defender-se, não é diferente de negar um prato de sopa a quem vemos definhar à fome mesmo ao nosso lado. É pura desumanidade. O que acontecerá com esta decisão não será senão a imposição de uma forma não-declarada de eugenia: apenas sobreviverão os mais fortes, os mais competitivos, com lugar pré-estabelecido na selva do lucro e do trabalho alienado. Quanto aos outros, definharão em quartos escuros, em lares sombrios, sem qualquer esperança, sem solução de futuro. Caminhamos para a afirmação da maldade como ética de governo.