versão revista de um post publicado há cerca de um ano
De novo às voltas com as praxes académicas. Não que representem um problema para quem, nos ambientes universitários, delas faz – até há pouco tempo, durante algumas semanas, agora o ano letivo inteiro – o eixo das suas vidas. Pelo contrário, aparentemente essas pessoas até se divertem, daquela forma muito própria e bastante pobre e falha de imaginação de se divertirem. Mas porque para a maioria dos cidadãos, que as observam de fora como vestígios exóticos de uma época e de um mundo que não entendem bem, são um fator de perturbação. As razões que as impõem não se prendem, no entanto, com o lado mais ou menos folclórico da «festa permanente» que lhes está associada. Na raiz implicam um espaço de recreio muitas vezes legítimo, e afinal nem todos temos o dever de achar divertidas as mesmas coisas. Mas relacionam-se com três circunstâncias sobre os quais podemos alinhar umas ideias.
A primeira refere-se à apresentação de tais práticas como socialmente integradoras. São-no de facto, mas integrando os jovens novatos em ações aviltantes e sexistas, determinadas por práticas hierarquizantes e resistentes à mudança, impostas geralmente pela coacção e pelo medo. A segunda circunstância liga-se às recentes alterações das manifestações praxísticas, que se têm expandido, invadindo espaços de trabalho, perturbando agora as próprias aulas e tempos letivos, e tomando formas antes vedadas pelos seus próprios códigos. São estes abusos, alguns com marcas de agressividade e violência, verbal ou mesmo física, consentida ou não, que foram há tempo objeto de medidas restritivas por parte de algumas autoridades académicas. Finalmente, a terceira prende-se com o tempo concreto em que vivemos e que, mais do que nunca, requer a coesão, o contributo ativo e a ousadia crítica dos jovens. Em espacial dos universitários, tradicionalmente (tradicionalmente, é de insistir) ligados à crítica social e a causas difíceis mas necessárias. Que pode pensar, neste momento tão dramático que estamos a viver – e que atinge brutalmente a maioria dos estudantes e as suas famílias – quem olha, como única atividade visível no teatro social, tais atos de estúrdia sem sentido e de exibição de estatuto? Estatuto que além do mais já não existe.
Claro que é injusto generalizar. Sendo uma minoria, existem muitos alunos universitários com consciência crítica que não atribuem importância alguma a este folclore, que dele até se distanciam, que sobre ele ironizam, que correndo alguns riscos se lhe opõem. E são muitos mais aqueles que, encolhendo os ombros, apenas aceitam o seu lado mais ocasional e simbólico. Mas é preocupante perceber o modo como todos estes se têm vindo a alhear dos organismos associativos e das atividades coletivas mais especificamente académicas, seguindo um tanto à margem da vida universitária e cedendo o lugar na representação social do estudante às minorias ruidosas, geralmente ignaras e vazias de perspectivas ou de objetivos, em alguns casos tocando a delinquência, que andam a confundir as universidades e as cidades que as acolhem com parques de diversões regados a cerveja.