Morto (ou suicidado) em 1940, quando procurava escapar aos nazis, Walter Benjamin foi talvez o menos previsível dos marxistas do seu tempo, a ovelha negra de uma família que na altura se encontrava razoavelmente unida. Foi ensaísta, crítico literário, filósofo, tradutor, sociólogo, jornalista e radialista. Nos interesses e na experiência misturou literatura e reflexão filosófica, religião e secularismo, esquerda e misticismo. Combinou o idealismo alemão com o materialismo histórico, o desespero com a criatividade, a teoria com a vida. Especializado em Goethe, Balzac, Proust, Kafka e Baudelaire, mas interessado também, sempre, em miudezas, em atividades fúteis e em coisas vulgares. Perseguidor de brinquedos, livros infantis, barcos e viagens. E ocupado com mulheres impossíveis, o que não é de somenos. Gershom Scholem, o teórico do misticismo judaico, considerava-o um espírito muito especial, mas não entendia porque se relacionava ele com «todos aqueles esquerdistas». Brecht admirava-o, mas nunca conseguiu perceber que raio de conversas poderia ter ele com «todos aqueles místicos». Foi no entanto essa complexidade que o salvou do esquecimento e o fez nosso, como auxiliar da autonomia do pensamento e da ação, como exemplo da capacidade e da necessidade do desencanto perante o encantamento que escraviza.