Bibliocrime
Existe quem defenda que roubar livros não é crime, uma vez que os bens culturais devem dispor de trânsito livre, universal e gratuito. Ressalvando os casos em que o ladrão tem em vista a raridade bibliográfica que pode seguramente valer uma boa maquia, trata-se de um produto do qual realmente só se apropria sem passar pela caixa registadora quem é um real connaisseur ou dele precisa mesmo. Rouba-se então pelo gosto, para alguns pela necessidade, de ler. Ou então pela compulsão bibliófaga. Rimbaud roubava livros, e Genet, como não podia deixar de ser, também o fazia. Sei de cidadãos, alguns de perfil público, que em dado momento das suas vidas, por aperto financeiro ou gosto do risco, se dedicaram com tenacidade e bom proveito a essa pequena mas nobre arte. Que fiquem descansados em relação aos efeitos casualmente perniciosos da minha memória, pois não sou delator. Além disso, e para ser sincero, não estou em condições de poder garantir não ter eu próprio sucumbido no passado à cobiça, deixando-me envolver – devido provavelmente às más companhias – no emocionante submundo da transgressão associada ao consumo de produtos brochados ou encadernados. (mais…)