Num tempo no qual se repetem, uma vez mais, as tentativas sistemáticas de representar Israel e o sionismo como um universo unívoco, parte integrante de um odioso «império do mal», sem se ter em conta, por ignorância, casmurrice ou má-fé, a diversidade e as contradições que separam, por vezes profundamente, os cidadãos israelitas e as distintas formas de sionismo, retomo, quase três anos depois, um fragmento da entrevista ao escritor Amos Oz, conduzida por Alexis Lacroix, que saiu no nº 494 do Magazine Littéraire, de Fevereiro de 2010.
Você tem insistido sobre o facto da maioria dos europeus ser incapaz de conceber a vulnerabilidade do povo israelita. Não será um exagero?
A Europa permanece incapaz, em larga medida, de imaginar sequer a insegurança existencial dos israelitas. No conflito israelo-palestiniano não há lugar apenas para os bons e para os maus como muitos europeus gostam de acreditar. Não se trata de um western, nem de um combate entre o bem e o mal. É uma verdadeira tragédia, um conflito entre duas reivindicações poderosas, convincentes e válidas. Dito de outra forma: um combate entre o justo… e o justo.
Em numerosas intervenções públicas (…) costuma deplorar o facto de a numerosos europeus repugnar a consideração do sionismo em toda a sua complexidade. É essa a razão pela qual você prefere definir o sionismo como um «apelido»?
Quando recorro a essa metáfora, quero dizer que existe, no interior do sionismo, uma gama muito variada de sensibilidades e de correntes ideológicas: há o sionismo telúrico e anexionista dos sionistas religiosos; há o sionismo “revisionista” de Jabotinsky e dos seus émulos do Likud, que era o do meu pai, Arieh Klausner; há enfim o sionismo humanista, antianexionista, do qual me sinto, justamente, um herdeiro, desde que, em plena revolta juvenil contra o meu pai, me tornei um condutor de tratores de esquerda…
Até que ponto a literatura pode favorecer a emergência de uma solução?
A literatura desempenha um papel indirecto: ela ajuda-nos a imaginar o outro. Imaginar o outro é um passo importante para a resolução dos conflitos (…), é uma etapa indispensável para se chegar a uma melhor compreensão mútua.