A palavra Ostalgie emergiu há alguns anos, na Alemanha, como expressão de uma tendência para reavaliação benévola do passado da antiga República Democrática Alemã. Esta «nostalgia do leste» surgiu, de início, como expressão da dificuldade de alguns setores sociais, particularmente os ligados às gerações mais velhas de «alemães de Leste», para lidarem com as transformações da sua vida pessoal e da sua História coletiva. Mas rapidamente expandiu a sua influência, absorvendo grupos descontentes com a realidade e as desigualdades do capitalismo, chegado de rompante e deixado à solta depois de 1989, ou então incapazes de se adaptarem a novos estilos de vida e a diferentes processos de trabalho. Enquanto os mais velhos passaram a exprimir nostalgia por um passado, o da sua idealizada juventude, no qual, apesar da ausência de liberdade e da penúria generalizada, tinham vivido uma certa experiência de segurança no emprego e de igualdade formal no quotidiano, muitos dos mais jovens começaram antes a idealizar um passado que não viveram, olhando-o como expressão do paraíso perdido ao qual seria bom poder alguma vez regressar.
Associado, nos países mais a ocidente, à vivência estética de um «comunismo kitsch», nos países do antigo «socialismo realmente existente» tem feito o seu caminho também como um ideal de beleza e uma moda a recuperar, talvez até mais do que como um programa político propondo o retorno ao antigo sistema. Para além do lugar que ainda ocupa nas áreas mais orientais da Alemanha, esta tendência parece ser particularmente forte na Polónia e ainda, talvez até mais no presente, em vários dos Estados resultantes da derrocada da antiga União Soviética. Podemos tomar o pulso a esta tendência vendo de que forma ela estimula uma certa melancolia, associada, sobretudo na ex-URSS, à perda da antiga «grandeza imperial», mas também à atração por hábitos de trabalho, objetos de uso diário, formas de divertimento, tradições festivas, expressões de uma «arte para as massas», e outras vestígios de um passado ainda relativamente recente. Se bem que apenas acessível para quem tenha conta na rede Facebook, vale a pena seguir, para se perceber a dimensão desta recuperação maravilhada do passado, a página СССР, то ли ещё было. Nostalgie/USSR. Ela oferece aos seus «amigos» e seguidores – perto de 23.000 no momento em que escrevo – uma extraordinária dose diária de veículos e mangas de escape para o plausível regresso ao seu «admirável mundo velho».