No quarto post da série, a obra destacada é Tempo e Narrativa, publicada em três tomos, entre 1983 e 1985, pelo pensador francês Paul Ricoeur (1913-2005).
Aberto a todas as filosofias, o pensamento de Paul Ricouer procurou dialogar com as diversas influências que o formaram, esforçando-se sistematicamente para diluir as oposições que entre elas pudessem existir. É no entanto na ação humana que se encontra o fio condutor do seu trabalho. Órfão a partir dos dois anos, Ricoeur interessou-se desde muito cedo pela questão do sofrimento, do mal e da culpa. Nos anos 30 descobriu Edmund Husserl, cuja obra ajudou a divulgar em França através da tradução das Ideias Orientadoras para uma Fenomenologia, que o filósofo checo-alemão havia publicado em 1913. A marca deixada pelo seu pensamento na teoria da fenomenologia será profunda. No entanto, para Ricoeur a filosofia não era uma atividade de natureza narcísica. E foi por isso que o seu espírito de abertura foi também de abertura para aquilo que se passava fora do campo mais específico da sua disciplina.
Procurou assim estabelecer um diálogo crítico com a linguística, mas igualmente com a psicanálise, o direito, a teologia e a história, a qual contribui também para renovar com a sua abordagem dos problemas do sentido, da consciência e da identidade. É neste campo que se situa o papel de Temps et Récit (Tempo e Narrativa), uma das suas melhores obras, através da qual nos mostrou que existe uma unidade de estrutura entre a ficção e a historiografia. Insistiu aqui, em primeiro lugar, na importância do «colocar em trama» (da «mise en intrigue») que intervém sobre os elementos singulares e heterogéneos para produzir então uma história. Desta forma, contribuiu para repensar a historiografia, cruzando-a com as sinuosidades da filosofia do seu tempo e da teoria literária. Foi igualmente a partir desta obra que emergiu a noção, tão importante para as ciências humanas, de «identidade narrativa». Enquanto a psicanálise pôs fim à imagem unificada do eu, a narrativa passou, para Ricoeur, a introduzir uma certa noção de identidade na explicação razoável que podemos fazer da nossa própria experiência. A «identidade narrativa» aparece então como um jogo, fundamental, tanto para os indivíduos quanto para os grupos, para que estes possam atribuir um sentido ao seu próprio destino ou aos acontecimentos que procuram descrever e interpretar. [Adaptação de um artigo de Catherine Halpern.]