Morreu ontem aos 80 o realizador japonês Nagisa Oshima, a quem, no obituário, o Público chama com justiça «um dos mais importantes cineastas do corpo». Todavia, em Portugal, para muitas pessoas o cinema de Oshima permaneceu na memória devido apenas à exibição pela RTP, numa noite de 1991, do seu O Império dos Sentidos. O erotismo do filme, focado na relação obsessiva entre a prostituta Sada e Kichizo, o dono do bordel, gerou algum escândalo e teve destaque de primeira página, com o arcebispo de Braga, D. Eurico Dias Nogueira, a insurgir-se contra a inclusão da obra na grelha do canal público. Ficou para o futuro a sua frase sobre o que vira: «Aprendi mais em dez minutos deste filme do que no resto da minha vida». À volta da exibição de O Império dos Sentidos, tenho aliás para contar uma história igualmente curiosa, ainda que um pouco mais antiga. O filme foi estreado em Portugal em 1976, o ano de produção, e vi-o no meio de um tumulto. Dado o erotismo patente nos fotogramas que acompanhavam a sua divulgação, no cinema onde o pude ver – o velho Avenida, de Coimbra – o público era composto por uma estranha mescla de pessoas interessadas em «cinema de autor» e outras, menos dadas às artes e desinteressadas da crítica, que acreditavam tratar-se simplesmente de mais um filme pornográfico. Como não era obviamente o caso e as cenas se arrastavam sem qualquer exibição de sexo explícito, gerou-se rapidamente um tumulto, com os amantes do hardcore a manifestarem a sua indignação, abandonando a sala e exigindo aos berros a devolução do dinheiro do bilhete. Nunca soube em que ficou o episódio, uma vez que fui dos que permaneceram sentados e viram o filme até ao fim. Ainda que sem o proveito pedagógico que teria mais tarde o arcebispo de Braga.