Os acontecimentos que nos últimos dias envolveram a presença pública de Miguel Relvas e a violenta contestação da qual esta tem sido objeto por parte de alguns grupos de cidadãos mais destemidos, levantam uns pequenos problemas. Não penso que, em democracia, a contestação dos governantes deva passar pelo cerceamento da sua liberdade de opinião e de expressão. Ou pelo insulto público. Existem formas e lugares para a demonstração do descontentamento, mesmo quando esta é muito veemente, e que podem passar por outras iniciativas sem que tal diminua o seu impacto. Porém, no caso deste governante, e do seu trajeto oportunista, obscuro, mercantil e politicamente desprestigiado, exibido com a conivência de um governo empenhado em pôr em causa a própria Constituição da República, justifica-se uma exceção. Perante a desfaçatez, enorme e insultuosa, que é a sua manutenção teimosa, artificial e até imprudente como responsável governamental da mais alta responsabilidade, a soberania pode ser transferida para os governados e estes adquirem todo o direito, desde que o não façam com recurso à violência física – o que jamais aconteceu, diga-se –, de fazerem ouvir a sua voz. Da forma, com a intensidade e nos lugares onde entendam por bem fazê-lo. O protesto e a indignação, para serem eficazes como protesto e indignação, não podem ser bradados em surdina, cantados em becos, mastigados em vãos de escada e exibidos à socapa com punhos de renda. Precisam ser visíveis e sonoros, e, de hoje em dia, de ganhar projeção mediática. Só que cantar o Grândola, Vila Morena em tal situação parece-me um pouco desprestigiante para este grande hino-canção, tão importante para a tradição democrática e a memória coletiva dos portugueses. É que «para quem é bacalhau basta», e por isso, como escrevia alguém com piada e carradas de razão no meu mural do Facebook, mais valia cantar a Relvas A Mula da Cooperativa.