Absorvidos pelas urgências da política doméstica ou pelas grandes preocupações que assolam a casa europeia – isto é, mais diretamente envolvidos nos assuntos que nos dizem respeito porque nos afetam os bolsos e as vidas –, temos esquecido, ou passado para segundo plano, os dramas um pouco mais distantes. É o que tem sucedido, por exemplo, com a guerra civil na Síria, empurrada para as pequenas notícias de pé de página no preciso momento em que o número de mortos, feridos, desaparecidos e desalojados continua a crescer numa escala perturbante. Mais: temo-nos dado ao luxo de a seu respeito deixar passar versões simplistas e parciais de uma realidade complexa, nas quais se transformam os carrascos em vítimas ou se simplifica, como num mero combate entre o Bem e o Mal, aquilo que, em Damasco ou Alepo, de facto não é simples. O mesmo está a acontecer com as ocorrências do interminável conflito israelo-palestiniano, do qual nos tem chegado informação aparentemente repetitiva, dando a entender que tudo está na mesma quando na realidade, embora lentamente, algo tem vindo a mudar. Parte desta novidade surge agora justamente de onde os mais distraídos ou irredutivelmente maniqueístas tendem a nada esperar de bom.
A viagem de Barack Obama ao coração do conflito, encontrando-se com as autoridades israelitas e palestinianas, traz-nos algo que, não sendo novidade absoluta, é agora assumido de forma clara e dito a quem na região corporiza o confronto. Diria que, desde os tempos esperançosos dos acordos celebrados entre Yitzhak Rabin, Yasser Arafat e Bill Clinton, nada de tão positivo ocorria na evolução da política americana para a região. No local, Obama afirmou basicamente três vetores da posição americana: em primeiro lugar, confirmou a adesão ao princípio universal segundo o qual «o direito do povo palestiniano à autodeterminação e à justiça deve ser reconhecido»; em segundo, insistiu na necessidade absoluta de se aceitar a existência de dois Estados independentes, Palestina e Israel, sem que da afirmação de um se deva obrigatoriamente inferir o desaparecimento do outro, transformando os agora perseguidos em futuros opressores; e em terceiro lugar reconheceu que as feridas e as injustiças cometidas são de tal magnitude que só com a educação para a paz das próximas gerações, a lançar desde já, será possível criar um clima de confiança e respeito mútuo entre os dois Estados e os dois povos. Nada que as vozes mais lúcidas dos dois lados não andem a dizer ao longo das últimas décadas, contra a opinião belicista da direita israelita e a posição negativa dos setores palestinianos mais inflexíveis. E contra a dos acríticos amigos de uns e de outros.