Numa das conversas de teor autobiográfico com Timothy Snyder que fazem parte de Pensar o Século XX, um dos seus últimos livros, Tony Judt, educado principalmente em Londres, falou a dado momento da sua relação familiar com a França e com os carros franceses. O seu pai era um grande apreciador da marca Citroën, por motivos que só mais tarde compreendeu: os fundadores da marca eram, como os pais do historiador, de origem judia. Por outro lado, o velho Joe Judt não se inibia de dizer que jamais conduziria um Renault, uma vez que Louis Renault fora um colaboracionista, simpatizante confesso do regime de Vichy, tendo por isso visto a firma ser nacionalizada quando da Libertação. Quanto aos Peugeot, eram olhados com alguma indiferença mas sem animosidade, uma vez que eram de linhagem protestante e não estavam por esse motivo implicados no antissemitismo católico da França de Pétain. O que Tony Judt nunca terá sabido foi da influência de um veículo Citroën – o nefando BX com o qual em 1985 chegou ao Congresso do PSD na Figueira da Foz – na desastrosa ascensão ao poder, em Portugal, de Aníbal Cavaco Silva. Homem inteligente e de esquerda como era, se o soubesse talvez aceitasse contrariar o gosto paterno.