Está marcado para a próxima segunda-feira, em Coimbra, um debate em direto sobre as «praxes académicas» integrado no programa Prós e Contras, da RTP. Como se sabe, o tema está em discussão pelas piores razões, levantando à sua volta bastante poeira feita de desinformação e de interpretações muitas vezes mal fundadas, associadas a um extremar de posições por parte de algumas cabeças mais quentes. O mote do programa, «Sim ou não às praxes?», convida mesmo a uma radicalização das atitudes, a meu ver dispensável e até algo perigosa. Por isso se justifica uma troca pública de pontos de vista serena e tanto quanto possível fundamentada. Apesar da sua materialização depender, neste caso como em qualquer outro, da condução do programa e dos intervenientes, valerá sempre a pena confrontar aos olhos do cidadão comum posições sobre um assunto que de há muito ultrapassou o espaço da estrita realidade estudantil, marcando a vida universitária e as suas envolvências.
O debate proposto, forçosamente parcial e jamais conclusivo, como todos, deveria proporcionar o que se espera sempre da discussão de um tema da atualidade: o enunciar sereno de diferentes posições, a adesão crítica a este ou àquele ponto de vista, uma leitura aberta dos contextos, depois uma discussão, acalorada até, e muito se preciso fosse, sobre as razões e as propostas invocadas por quem tomou esta ou aquela posição. Motivo pelo qual me parece bastante perturbadora deste debate, para não dizer intimidatória, a mobilização, feita por quem defende as praxes como o centro da sua vida enquanto estudante, para uma concentração de alunos pró-praxes – seja lá o que isso for, pois não existem uma mas várias, sujeitas a diferentes e divergentes leituras – para a frontaria do espaço físico a partir do qual o programa vai ser transmitido. Terão as suas razões os que a divulgam, das quais quase sempre discordo, mas estas apenas serão respeitáveis enquanto respeitarem democraticamente as dos outros, o que neste caso duvido que possa acontecer. Suspeito pois que, nestas condições, o Prós e Contras desta segunda-feira irá decorrer algo inquinado à partida.
Uma adenda necessária. Não posso deixar de lamentar que em tempos tão dramáticos para a vida do país, das universidades e de cada vez mais estudantes, bem como das suas famílias, seja este o tema capaz de mobilizar rapidamente furores e indignações de um número significativo de alunos universitários. Quando tanto há para rever, para debater, para protestar, para exigir, para propor, usando a energia da qual dispõem, a força que são capazes de ter e as razões que lhes assistam. Compreendo que se tenha chegado a este cenário, associado a um certo vazio de vidas pelo qual somos todos responsáveis, e com muita incompreensão pelo meio, mas não o posso aceitar. Receando pelas suas consequências.