Quatro notas sobre o Tempo de Avançar

Enrique-Vives-Rubio
Fotografia de Enrique Vives-Rubio | Público

Quatro curtas notas sobre o modo como decorreu a convenção da candidatura cidadã Tempo de Avançar, que durante o último sábado reuniu no Fórum Lisboa perto de 800 pessoas. O seu objetivo expresso e comum foi o de preparar uma alternativa de esquerda em condições de se apresentar às próximas eleições legislativas como escolha consistente, construtiva, autónoma e mobilizadora.

Primeira nota. Foram discutidas e aprovadas durante a convenção as grandes linhas programáticas de um programa eleitoral a desenvolver e a tornar público ao longo dos meses mais próximos (em breve disponíveis aqui). O objetivo nuclear que norteou este esforço foi o de contribuir para uma imprescindível viragem na governação do país, assumindo a responsabilidade de, à esquerda, propor soluções ao mesmo tempo sustentadas, ousadas e credíveis.

Segunda nota. A convergência de posições não traduziu qualquer procura no sentido de uniformizar ou de diluir as correntes que estiveram na origem deste processo. Tal como se pretende fazer em relação à aproximação das esquerdas e aos compromissos políticos futuros, insistiu-se no essencial, naquilo que une, naquilo que é prioritário e urgente, resolvendo-se as naturais discordâncias democraticamente, mas sempre sem minimizar ou silenciar as vozes que as possam exprimir.

Terceira nota. Os debates fizeram-se sempre pela positiva, na construção de um programa próprio, preparado para marcar um rumo novo e para unir. Sempre na perspetiva de fazer convergir o maior número possível de cidadãos e de setores políticos situados à esquerda do nosso mapa político. Nem uma só intervenção apontou para a edificação de qualquer bunker político suposto portador da verdade, tal como não se ouviu qualquer elogio ao Partido Socialista ou ataque expresso ao Bloco de Esquerda ou ao PCP. Embora tivessem sido referidas as indecisões do primeiro e a escusa dos segundos em assumir uma dinâmica de governo.

Quarta nota. Ao contrário de uma desmoralizadora tendência que tem sido observada nos tempos mais recentes em outros lugares e movimentos, foi muito apreciável a percentagem de pessoas jovens que esteve presente na convenção e que durante o dia se mostrou mobilizada e participativa. O que augura dinâmicas essenciais na mobilização de novos setores do eleitorado e na construção de uma alternativa política consistentemente voltada para o futuro.

Existe agora um caminho a percorrer junto da sociedade. Um caminho que só se faz com trabalho, persistência e capacidade de persuasão. Visando mostrar de forma clara que esta proposta não se destina a «dividir a esquerda», mas antes a colaborar de forma positiva, com ideias e propostas, e também com gente com rosto, na configuração de uma escolha e na construção urgente de uma experiência convergente de governo. Essencial para devolver a esperança e a dignidade às pessoas. Imprescindível para libertar o país do pesadelo. A ambição é muita, mas nada se faz sem ela.

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