«Si estirem tots, ella caurà / i molt de temps no pot durar, / segur que tomba, tomba, tomba / ben corcada deu ser ja. // Si jo l’estiro fort per aquí / i tu l’estires fort per allà, / segur que tomba, tomba, tomba, / i ens podrem alliberar.» (Lluis Llach, em L’Estaca, 1968)
Este domingo, 27, é muito provável que os adeptos da independência vençam as eleições autonómicas na Catalunha. Por cá, o tema passa bastante ao lado do interesse público. No passado, quando Franco governava a Espanha «por la gracia de Dios», o apoio aos independentistas – fossem eles catalães, galegos, bascos, andaluzes, valencianos ou outros – era para bastantes portugueses inquestionável. Defender a democracia, era defender a emancipação da tutela de Madrid, logo significava uma posição contra a ditadura e os seus aliados. Salazar, por exemplo. Aliás, esse era um tempo de emancipações, no qual «o direito de cada povo a seguir o seu próprio destino» surgia, para muitos, entre os quais eu me contava, como inquestionável. Tínhamos aliás uma dívida de gratidão: em 1640, fora a revolta da Catalunha que permitira aos portugueses ter uma frente de guerra menos desfavorável e assegurar, após 28 anos de combates, a restauração da independência.
Só que o mundo continuou a andar, o Estado espanhol também, e atualmente, em particular no que diz respeito à Catalunha, os principais partidos e movimentos independentistas são forças conservadoras ou mesmo assumidamente de direita. E já não são anti-Madrid por uma questão de princípio: manifestam-se principalmente contra o controlo centralista da economia da região mais rica do país, sobretudo em benefício da sua elite social, que não tem propriamente uma perspetiva distributiva e justa da riqueza da região.
Por isso, tenho agora dúvidas sobre se deva ou não reavivar a antiga simpatia pela independência catalã. Não me é indiferente, mas também não me entusiasma. Talvez pelo contrário, até que me convençam que estou enganado. Gosto da Catalunha e de muitos dos seus naturais, prefiro as Ramblas à Plaza Mayor, aprecio o falar suave da língua catalã, tão diversa do castelhano mais gutural e bradado, e também a sua culinária (cantada pelo detetive Pepe Carvalho nos imperdíveis policiais de Manuel Vásquez Montalbán), mas sei que o mundo será diferente, e desconfio que não para melhor, sem uma sucessão anual dos disputados jogos de futebol entre os de azul e grená e os de branco. E que uma Espanha coesa, embora plural e respeitadora das autonomias, eventualmente federal, terá nesta fase melhores condições para participar na construção de uma Europa pacífica, justa e menos desigual.
Mais de quatro décadas depois do hino que com o qual começa este pequeno texto, Llach proclama em palco «Tenim Pressa». «Temos Pressa».