Creio que não tem sido dada completa importância ao que representa, no plano social, a recuperação dos quatro feriados e «dias santos» que a Assembleia da República aprovou durante esta semana. Insistiu-se sobretudo na dimensão cívica e religiosa das datas em causa, em particular a propósito do 5 de Outubro e do 1º de Dezembro, e na forma como a sua recuperação tem um importante valor político e simbólico. Falou-se também de como a sua eliminação pelo governo anterior foi uma decisão fútil, sem verdadeira utilidade económica. Tendo até, ao contrário do que na cegueira administrativista que a caraterizou a anterior maioria supôs, sido prejudicial para a fluidez do consumo.
Aquilo que não parece ter sido suficientemente sublinhado foi que essa eliminação correspondeu à afirmação de uma perspetiva autoritária e de classe, imposta por quem, habituado apenas a mandar, a administrar ou a viver de benesses alheias, desconhece ou já esqueceu a realidade da vida vivida, repetitiva e com ritmos tantas vezes muito duros e desgastastes, dos milhões de cidadãos que, cinco ou seis vezes por semana, precisam levantar-se às seis da manhã. Retornando a casa apenas ao inicio da noite, sem tempo para suficiente descanso ou para fruir de suficiente espaço para o lazer e para a vida pessoal e social.
O aspeto mais relevante da reposição dos quatro dias de descanso foi, de facto, conferir a quem deles precisa tempo para uma atividade não confinada às cadências do trabalho e para a sua própria vida. Quanto aos que determinaram que os trabalhadores dele não podiam fruir, ou aos que com essa proposta concordaram, esses encontram sempre um horário maleável que lhes dá horas semanais para a família, para ir às compras ou ao médico, para dormir ou simplesmente flanar. No entanto, para quem é obrigado a um horário pesado e rígido, um mero dia «de folga» é sempre uma benesse, um espaço de recuperação e um fator de qualidade de vida. Foi muito bom que quatro deles tenham agora regressado por vontade da maioria de esquerda.