Publicadas em jornais, blogues ou redes sociais, as crónicas de opinião – tenham a forma de curtos artigos ou de breves notas – são sempre escritas de forma rápida e circunstancial, ao sabor dos acontecimentos ou dos acasos, bem como das impressões por estes causadas nos seus autores. Isto confere-lhes inevitavelmente uma forte margem de transitoriedade, incerteza e imprecisão. São também muitas vezes experimentais, sem tempo para amadurecimento e revisão. No entanto, quem as escreve sabe como são acusadas de tudo: de parcialidade, incompletude ou ligeireza, sendo ainda habitual que os seus autores vejam o que exprimem interpretado muitas vezes de forma abusiva, confundindo-se a parte com o todo e tomando-se como definitivo aquilo que jamais o pretendeu ser.
Os primeiros textos que publiquei impressos foram culpados disso tudo. Saídos no final de 1970, num jornal regional, tinham a forma de uma pequena caixa quinzenal contendo um parágrafo de dez linhas, onde tinha o dever de oferecer informação e opinião, debaixo do elucidativo título «Conta-Gotas». A prosa tinha ainda a particularidade de ser sempre «visada pela comissão de censura» antes de seguir para o prelo, e por vezes sujeita mesmo a cortes. Como se percebe, exercício de «equilibrismo» bem pesado para um teenager, só justificado pela vontade de escrever para um público. Um exercício necessariamente «parcial», «incompleto» e «ligeiro». Afinal, este é um género que apenas pretende dinamizar alguma consciência crítica, lançar uma ideia, sendo por isso obrigatoriamente fugaz e incerto.
É assim parte do que escrevo de forma pública há quase cinquenta anos. Sempre no confronto com essa espécie de crítica fácil, geralmente injusta, certas vezes desonesta. A diferença atual é que agora qualquer pessoa a pode efetuar com maior eco. Algumas fazem-no por ignorância ou pura maledicência. A maioria, todavia, fá-lo apenas por ingenuidade, pois é incapaz de diferenciar os géneros da escrita, as circunstâncias da sua produção e os lugares ou formatos em que são divulgados. Como milhões de pessoas na mesma situação, convivo sem problema com esta espécie de «crítica». Admito, porém, que certas vezes me apetece ripostar como aquele boneco nascido e criado em Coimbra, com a forma de cão-que-fala, que se dá pelo nome de Bruno Aleixo e muitas vezes reage com a imprecação «mas ca’burro!».