Poderia ficar calado sobre este assunto? Sim, claro que poderia. E virá aquilo que vou escrever ajudar a resolver alguma coisa? É claro que não, nada. Implicará o parágrafo abaixo um assacar de «culpas» seja a quem for? Também não, a realidade é o que é, nada mais. Move-me apenas o contrariar da camuflagem da verdade e da reescrita da história que está a ser feita. Talvez seja uma mania de historiador. O assunto: o apoio do Bloco de Esquerda e do PCP ao governo do PS que agora cessa funções. Porque aquilo que aconteceu não foi bem o que está a ser contado como aquilo que aconteceu. Em parte por iniciativa de António Costa, na fase mais agreste da campanha eleitoral, mas também por pessoas que acompanharam mecanicamente as suas palavras. Não falo de cor, ou por uma impressão, mas atendendo a factos e a informações pessoais que me deixam contrariar essa reescrita.
Retomo então aquilo que escrevi em outro apontamento. Ao contrário das críticas de Costa, se é verdade que o Bloco poderá em alguns momentos ter sido mais «imprevisível» e problemático para o PS no funcionamento da Geringonça, foi até mais transparente nesse domínio que o «fiel» PCP. Este poderia, nas conversações, ser menos «problemático», admitamos que sim, mas quem observou a atividade do partido fora do espaço dos encontros interpartidários de topo – ou seja: nos sindicatos, nas empresas, nas organizações de juventude, nos blogues e nas redes sociais – sabe muito bem que aqui a generalidade dos seus militantes sempre mostrou falta de solidariedade para com o PS, constantemente diabolizado e julgado pelo passado e pelo presente. Coisa que raramente vi a generalidade dos militantes do Bloco fazer. Com exceções, como em todo o lado.
Afinal, talvez a difícil situação atual relativa aos acordos para a nova legislatura não caia do céu aos trambolhões. Como escrevia o outro camarada, «apenas a verdade…».