Já anteriormente partilhei a memória bastante forte que sei comum a muitos dos homens e das mulheres que como eu viveram o nosso biénio de 1974-1975 de maneira ativa e com alguma dose de consciência política. É a da triste e desesperada manhã do dia que se seguiu ao 25 de novembro de 1975, quando o PREC infletiu claramente no sentido do modelo da democracia representativa que hoje vivemos, afastando-se da dimensão revolucionária a apontar para outras possibilidades. Diversas, aliás, não apenas a do «socialismo autoritário» – partilhado apenas por um setor político – que hoje as forças do centro-direita procuram disseminar como o lado único e negro da sua «verdade» do 25 de novembro.
Naquela manhã, porém, ninguém sabia muito bem o que iria acontecer, nem mesmo que a Constituição aprovada seis meses depois se iria transformar em bandeira da democracia e do próprio socialismo. A sensação partilhada era a de que o sonho do paraíso na Terra tinha ruído de vez e que estávamos de regresso ao país da «apagada e vil tristeza». É essa convicção numa dimensão de liberdade e de justiça efetivos, não apenas formais, que nessa manhã se cria ter sido amordaçada num insuportável ambiente de «fim de festa», que a direita e uma parte do Partido Socialista jamais entenderão. Mas é ela também, queira-se ou não, que integra o grande legado histórico do 25 de Abril.