Garanto que não tenho apenas um caso em mente enquanto escrevo estas linhas, e a verdade é que desde há muito tempo penso desta forma. Sem possuir neste momento militância partidária, sou dos que consideram os partidos instrumentos fundamentais, embora necessariamente não únicos, na vida concreta dos regimes democráticos. Por isso rejeito de todo a azeda «conversa da treta» que se proclama antipartidos, pegando em casos pontuais, alguns bem verdadeiros, ou então em situações ampliadas, para declarar que partidos e militantes «são todos iguais». Mas não, não são, eles são tecidos e seres complexos onde se encontra de tudo, incluindo-se neste um grande número de pessoas justas e dedicadas às causas nas quais acredita. Sendo também lugares onde se arrumam modos diversos de representar o mundo e de estar na vida.
O que pretendo sublinhar é antes a necessidade absoluta, para democratizar os partidos, ampliar a militância e alargar os processos de identificação de quem a eles adere, da existência formal de tendências. Isto significa, naturalmente, a definição de escolhas e propostas centrais nas quais todos os militantes terão de concordar, pois de outra forma um partido seria apenas uma associação de pessoas sem programa ou identidade. E não são, devendo existir unidade na ação. Mas significa também a possibilidade de pensar de forma livre e diversa em muitas matérias, de exprimir em público essas divergências e até de o discutir e exprimir em coletivo. Creio que desse forma muito mais pessoas empenhadas na cidadania se sentiriam mobilizadas para a vida partidária, olhando-a como espaço de liberdade e não como o lugar de coação que por vezes também é.
Rui Bebiano