Uso com regularidade redes de computadores desde 1992, e a Internet desde 1995, e por isso vi surgir com curiosidade e até algum divertimento o fenómeno dos hackers e o seu mundo muito peculiar. Conheci mesmo alguns, embora todos de pequena dimensão e parcas ambições. Estes, como outros que entretanto se tornaram mundialmente conhecidos – foi o caso de Kevin Mitnick, que em 1979, com 16 anos, andava já a passear-se a partir de sua casa por redes de computadores do sistema de segurança norte-americano – faziam o que faziam sempre pelo puro prazer do jogo e do risco. O surgimento de hackers abertamente criminosos ou ao serviço de Estados autoritários e de grupos terroristas foi um pouco mais tardio, tornando-se muito visível e ganhando impacto global sobretudo a partir da viragem do milénio.
A sua forma de agir, dinamizada pela curiosidade, pelo conhecimento e pela compulsão, tende cada vez mais a ser colocada ao serviço do crime e de formas de poder e de contra-poder que os utilizam em proveito dos seus interesses, causando com frequência prejuízos enormes a governos, a instituições e mesmo a simples cidadãos. Todavia, aqui como na lenda do bom ladrão, que «rouba aos ricos para dar aos pobres», existem também hackers que se servem do seu saber e a sua curiosidade de um modo que pode ser usado nos combates pela justiça e pela verdade. Assim aconteceu, por exemplo, com os casos de Julian Assange, Edward Snowden ou agora talvez Rui Pinto. Não os vejo como grandes e maravilhosos heróis mascarados ou de chapéu emplumado, como o Zorro ou Robin dos Bosques, mas as suas iniciativas podem e devem ser usadas na agilização da luta contra o crime organizado e os regimes autoritários.
Fotografia: Maria Feck / Expresso