Quando nas aulas de história contemporânea falo da Segunda Guerra Mundial costumo mencionar estes dados – referentes ao número e à percentagem de mortos sofridos nos Estados diretamente envolvidos – com o objetivo de diluir alguma informação adulterada ou mitificada. É raro os alunos não ficarem surpreendidos. Através dos números pode constatar-se a brutal mortandade provocada na antiga União Soviética e na Polónia pelas tropas nazis (os dados da China relacionam-se sobretudo com a intervenção japonesa). Pode também ver-se como a população da Alemanha acabou, sobretudo nos dois últimos anos do conflito, por sofrer idêntico destino, em boa parte determinado pela intervenção, a oeste e a leste, dos exércitos e sobretudo da força aérea dos Aliados, que devastou muitas cidades alemãs, algumas delas de forma arrasadora.
O esforço de modo algum se destina a desvalorizar as perdas sofridas em França, na Grã-Bretanha ou mesmo na Itália, mas apenas a repor a verdade dos factos. Como – essa é uma outra questão – o sofrimento do povo soviético e o papel crucial na derrota dos nazis desempenhado pelo Exército Vermelho não pode apagar, num processo hoje pacificamente aceite pelos historiadores que não são propagandistas, o que aconteceu de negativo com a intervenção de Estaline na fase inicial da guerra (desde o Pacto Molotov-Ribbentrop de paz e colaboração, assinado em Agosto de 1939 com a Alemanha e levando à partilha da Polónia, à destruição de grande parte da estrutura de comando do exército soviético quando da Grande Purga de 1936-1938). Este é outro lado da história, que não pode ser esquecido. O que estamos hoje a recordar e a celebrar, todavia, é o da grande vitória militar sobre a besta nazi.