A defesa das convicções próprias é um dos fatores mais essenciais do processo de humanização, permitindo que o sujeito se afaste do espírito de rebanho, pense por si mesmo e assuma as suas convicções, batendo-se por elas de uma ou de outra forma. Em democracia essa defesa é absolutamente essencial, pois permite dar coerência e conferir dinâmica ao que de outro modo seriam apenas atitudes e reações casuísticas. E ainda que por vezes se apoie no domínio da fé e da certeza – sejam estas de teor político, filosófico ou religioso – continua a ter um valor importante na organização da diversidade humana e da vida coletiva. Quem não tem posições, ou tem-nas fechadas e jamais as exprime, acaba por colaborar com todas as injustiças ou por ser cúmplice das situações mais condenáveis. Porque quem cala, consente, como diz o ditado.
Todavia, essa defesa diferencia-se do proselitismo. Esse permanente intento de converter uma ou várias pessoas, ou mesmo grupos sociais inteiros, a uma determinada causa, a uma ideologia ou a uma religião. Quem a ele se dedica reveste-se de um zelo de tal ordem intenso e obsessivo, que deixa de poder dialogar de forma aberta com quem pensa de uma forma mais ou menos diversa, tomando até essa diversidade como uma agressão às suas convicções. O prosélito não pára nunca de fazer proselitismo, seja onde for e com quem for, assumindo sempre o dever de «pregar» a sua verdade. Torna-se, em última instância, alguém que, para além de pouco democrático, se revela socialmente insuportável, já que toda a sua intervenção, pela qual jamais perpassam o desfalecimento e a dúvida, assenta na tentativa de impor aos outros um modo de pensar.