Ao lado do grande volume de posts e ligações relacionados com as eleições de hoje nos Estados Unidos da América, encontro comentários nas redes sociais, alguns deles de homens e mulheres de quem gosto bastante, que questionam o excesso de referências sobre este importante momento que estão a circular. Não me refiro a duas ou três atitudes desta natureza: só no meu feed do Facebook, sempre a rolar dado grande volume de contactos, apareceram à vontade uma vintena. Entendo bem o eventual incómodo pela repetição do tema, pois nem sempre estamos disponíveis para os mesmos assuntos e certas vezes o excesso acaba por enfartar um tanto, mas neste caso trata-se, a meu ver, de um erro de pontaria. As eleições nos EUA, a política dos EUA, a vida quotidiana nos EUA, têm uma influência direta na do planeta e até no ar (político e cultural) que se respira, principalmente nesta parte do mundo em que habitamos.
Algumas destas atitudes de rejeição representam apenas uma impressão pessoal, um desabafo momentâneo, e neste caso não têm gravidade alguma. Mas outras tomam a forma de justificação, de «argumento». Como o que procurava transmitir aquela frase onde se abordava um tema na época muito controverso na área da esquerda, por mim lida há mais de meio século num folheto clandestino, que marcou então uma escolha política pessoal e talvez por isso jamais tenha esquecido. Escrevia-se ali, referindo a expressão de alguma indignação: «Mas porque se preocupam com o que aconteceu em Praga e nada dizem sobre a greve dos trabalhadores da Baixa da Banheira?». Esta separação das realidades, este interesse seletivo por certos lugares e problemas, virando as costas a outros, supostamente porque pouco ou nada têm a ver connosco, constituem em regra transparentes artifícios de retórica e são sempre muito limitativos. Em determinados casos, são também bastante perigosos.
Gostemos ou não, neste 3 de novembro, como antes e depois dele, os Estados Unidos da América são também aqui.