No último dia de 2013 publicava aqui um postal, a acompanhar os habituais votos de bom-ano, onde se misturavam em dose desequilibrada a esperança e o desânimo. Nessa altura, estávamos no pico da atuação do governo PSD/CDS. Aquele, convém não esquecer, que então respondeu à crise global do capitalismo e dos mercados reduzindo dramaticamente as condições de vida dos trabalhadores – em particular os da função pública e os aposentados -, diminuindo-lhes ou retirando-lhe direitos com décadas de conquista, cortando feriados, forçando muitos milhares de jovens com formação elevada a sair de Portugal, submetendo-se a todos os ditames dos agentes do neoliberalismo que regiam os destinos da União Europeia, colocando o país de mão-estendida perante os outros. Ao mesmo tempo que prometia um crescimento económico assente principalmente na redução do consumo e na exploração do trabalho.
Nessa época, o que ampliava o desânimo até ao limite do insuportável, construindo perante a generalidade dos portugueses e das portuguesas um cenário onde expressamente se projetavam a decadência, o empobrecimento e a retração para um horizonte temporal que se arrastaria pelo menos até uma geração, talvez duas. Convém não esquecer isto, repito, numa altura em que vivemos outras dificuldades, em que o futuro tem algo de incerto, em que sabemos que pelos efeitos da pandemia poderemos entrar em nova fase crítica e difícil, mas onde, concorde-se ou não com a sua forma e atuação, temos sido governados por uma maioria que não coloca as pessoas, a felicidade e o futuro em último lugar. Sabemos dos problemas, sabemos que nada nasce de mão-beijada, mas podemos alimentar esperanças. E, diferentemente daquela época, já não vivemos na certeza de acordar a cada dia com uma margem de medo.
Nestas condições, é possível, sem demagogia ou hipocrisia, desejar a todos e a todas um 2021 o mais feliz que puder acontecer. E que seja também um tempo de combates e de esperanças.
[Publicação original no Facebook. Fotografia de Gabriele Wirths]