Todos conhecemos a expressão recorrente, aplicada a alguém que reencontramos e desejamos elogiar, que diz ser essa pessoa «como o vinho do Porto, quanto mais velho, melhor». Ou seja, que nos parece estar muito bem, talvez melhor do que esperávamos. Quem percebe de vinhos sabe que a qualidade do Porto não depende necessariamente (ou apenas) da idade que tem; a ideia que a frase incorpora, todavia, aplica-se a muitos casos reais. Homens e mulheres a quem os anos foram, de forma visível, apesar das rugas e dos cabelos brancos, melhorando a inteligência, o discurso, a forma de estar, o saber, a sageza política, a tolerância, por vezes até a beleza ou a capacidade de sedução. Todos conhecemos casos destes, felizmente. Gente que um dia vimos baça, tímida, sem voz, e que hoje brilha pelo que é ou pelo que faz.
Infelizmente, conhecemos muito mais pessoas que percorreram o caminho inverso. Que aos vinte eram belas, ousadas, argutas, criativas, e que, dez ou quinze anos passados, já estavam irreconhecíveis, envelhecidas, com muitas das antigas qualidades eclipsadas. Pessimistas e conformadas a um destino cada vez mais silencioso. O mundo das letras e das artes está cheio de casos destes: poetas, romancistas, atores, músicos, que se mostraram fulgurantes, ativos, inovadores, e que muito cedo perderam o que os tornava singulares. Na vida real mais comum também encontramos casos destes, pessoas cujo antigo brilho perdura na nossa memória, mas que reencontramos tristes. Existem episódios ou trajetos que terão imposto essa inversão, mas em muitos casos tratou-se mesmo de um raio de sol apenas passageiro.
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