Jamais alguém me ouviu defender a academia ‘per se’. Bem pelo contrário, sendo académico de condição completaram-se quatro décadas em novembro último, sempre tive com um ambiente universitário autocomplacente e corporativo (e ele existe, sem dúvida, oh se existe) uma relação, digamos, complicada. Talvez um dia me dê para dela fazer um balanço. Mas posso dizer desde já que, na vida profissional, procurei sempre combinar a «solidariedade institucional» com a liberdade crítica. Com alguns dissabores, naturalmente, mas cada um, ou uma, «é para o que nasce». Isto significa que procurei sempre ser solidário como o que a academia, e em particular o meio universitário, têm de bom – que é muito, que será mesmo a maior parte (fala quem conhece) -, contestando ou rejeitando aquilo que há a contestar ou a rejeitar.
Por este motivo, evito meter tudo no mesmo saco. E não posso aceitar que, por causa das opiniões obtusas de algum académico, seja este contumaz ou esporádico no exercício do ‘métier’, se trate «a academia» a esmo. É verdade que, entre os professores universitários – como entre os (e as) engenheiros, médicos, pedreiros, costureiras, ciclistas, açougueiros ou varinas – existe de tudo e para todos os gostos, mas por isto mesmo nada é mais errado do que, por via de uma estultice qualquer pronunciada por um seu elemento, tomar a nuvem por Juno, desatando aos pontapés a torto e a direito, como tenho visto acontecer. Gente desvairada ou de maus fígados existe em todas as partes, mesmo nas melhores famílias, e não é por isso que nos devemos exaltar por atacado com a estirpe dos Fagundes, com a dos Sousas ou mesmo com a dos Oliveiras.