Talvez tenha alguma sorte, mas, sem falsa modéstia, creio que também a procurei. Ao longo da vida, a possibilidade, determinada pela profissão, que mantive de um contacto com sucessivas e bem distintas gerações de jovens adultos, acompanhada de um esforço de atenção a todas as experiências, a todo o conhecimento, a todas as linguagens, foi-me permitindo manter uma relativa proximidade, ou pelo menos alguma capacidade de diálogo, com pessoas diferentes e mais novas que eu. Jamais deixando de ser quem sou.
Naturalmente, as diferenças existem, em alguns momentos vão até sendo ampliadas – só alguém cujo cérebro num dado momento petrificou pensa e age aos sessenta como o fazia aos vinte -, mas aquilo que verdadeiramente importa para uma relação não estagnada com o mundo, é saber escutar e saber falar sem impor essa absoluta «verdade» absoluta que jamais existe. É aceitar a diversidade de tudo e manter a consciência de que todas as experiências são diferentes, numa escala que nem sempre é qualitativa.
Nenhuma delas é a melhor, ou a ideal, como geração alguma é a perfeita, a melhor, a que se julga modelar, como conhecimento algum deve sobrepor-se a outros, sejam estes passados, presentes ou futuros. Por isso, para dialogar com quem não pensa como nós, a primeira condição será sempre ter em conta o que essa pessoa é, e só depois mostrar, se for o caso, como, nisto ou naquilo discordamos dela. Fazer o inverso, impondo a nossa própria verdade, é uma via rápida para a incompreensão.
Vejo um grande número de amigos, alguns até bem mais novos, que batem na tecla do «toda a gente sabe que», evocando um dado passado como o melhor dos passados, sendo esta generalização aplicada apenas a si e ao seu segmento geracional. Depois queixam-se com frequência de como «esta juventude está perdida». Já li esta frase num manuscrito de meados do século XVIII e daí para cá o mundo deu muitas voltas. Mas menos voltas para quem se fixa num modelo passado como bitola para medir o presente.