Um breve apontamento de domingo. As palavras que constam do título possuem a mesma raíz: Jacob, o nome do terceiro patriarca da Bíblia, filho de Isaac e neto de Abraão, cujo percurso terreno é contado no livro do Génesis. Todavia, a relação destas três palavras com esse nome materializou-se em circunstâncias históricas bem diversas.
Os jacobitas eram os adeptos de um movimento político que visava a restauração monárquica da dinastia Stuart nos reinos de Inglaterra e Escócia. A nomenclatura é uma derivação de «Iocubus, versão latina do nome do rei James II, deposto em 1688 pela Revolução Gloriosa que concedeu o trono a Guilherme II de Orange. Por sua vez, os jacobeus foram, entre os finais do século XVII e a primeira metade do seguinte, os membros de uma seita, organizada entre católicos religiosos e leigos, que pretendia regenerar, através de exemplos de intensa espiritualidade, a vida religiosa e moral do país. A expressão aludia à «escada de Jacob» mencionada no Génesis, dado os seus primeiros cultores costumarem reunir-se na escadaria do mosteiro de Varatojo.
Já os bem mais conhecidos jacobinos foram um dos setores mais radicais envolvidos na preparação e na sequência da Revolução Francesa, que procuraram conciliar a democracia de massas com uma direcção política centralizada, assente no sufrágio universal masculino. Apontados como o primeiro grupo revolucionário moderno, inspirador de uma série de outros movimentos do seu tempo e posteriores, receberam o nome por o Clube onde se reuniam se situar numa igreja parisiense situado na Rua Saint-Jacques (Jacques: em latim, jacobus). Robespierre e Saint-Just foram dos seus membros mais notórios, sendo em parte por isso que a sua tradição foi frequentemente associada ao uso político do Terror e à sombra da guilhotina. Assim ainda eram conhecidos os simpatizantes portugueses das invasões de Napoleão, que neste viram um possível instrumento do derrube do absolutismo.
Vem tudo isto a propósito de um episódio cuja memória me foi despertada há alguns dias durante uma conversa. Na altura da campanha eleitoral para as legislativas de 1976, deparei com uma tia-avó – casada em segundas núpcias com um irmão do meu avô materno após enviuvar de um capitão do exército que combatera nas hostes antirrepublicanas ao lado de Paiva Couceiro, presidente e chefe militar da Monarquia do Norte – a rasgar cartazes do Partido Socialista colados num muro perto de sua casa. Fazia-o freneticamente, de uma forma visivelmente furiosa, que me ficou gravada para sempre. Enquanto o fazia, bradava entre dentes, num tom de raiva que até ali não lhe conhecera, «Jacobinos! Jacobinos! Malditos jacobinos!».