Talvez isto possa parecer, ou ser mesmo, um tanto pretensioso, mas existirá por aí quem me conheça um pouco e lhe reconheça algo de verdadeiro. Jamais pauto posições públicas que possa exprimir apenas por critérios de amizade, de proximidade ou de conformidade a uma norma ou a um programa, seja com pessoas ou com entidades coletivas, incluindo-se nestas instituições, partidos, movimentos e causas. Se considero certa e necessária uma escolha ou uma campanha, e a minha palavra não for contraproducente para elas, digo o que penso sem qualquer problema. Se for injusta e for preciso contrariá-la, a mesma coisa.
Este critério já me levou a defender pontualmente pessoas ou grupos com os quais de modo algum me identifico, ou mesmo de que não gosto. Só porque os vi injustiçados. Ou então, no sentido inverso, já conduziu algumas pessoas próximas a catalogar-me como um adversário político, não o sendo de facto. Mas a independência e a «ética do espelho» – não sentir vergonha quando observamos o nosso rosto refletido – pagam-se com frequência. Por isso, não me apanharão, se valer mesmo a pena abrir a boca, a apenas considerar justo o que defendem pessoas ou movimentos politicamente próximos, calando ao mesmo tempo a denúncia do que considero errado.
Estou desta maneira à vontade para falar sobre a situação que envolve neste momento o partido Livre. Apesar de lhe reconhecer certos critérios programáticos com os quais em boa parte concordo – nomeadamente quanto à escolha das alianças, à política europeia, ao antirracismo e ao combate ecológico – tenho muitas discordâncias deste partido, a mais pequena das quais não será esse ultrademocratismo que já lhe trouxe dissabores e lhe retira credibilidade, e por isso nele não votarei. Além disso, também não discordo de partidos por não gostar da cara ou do hálito de um determinado responsável, pois se o fizesse jamais teria onde votar.
Fico assim em condições de considerar inaceitável que as televisões excluam o Livre dos debates das legislativas, sabendo-se que existe uma lei a recomendar que os partidos eleitos para a Assembleia nas últimas eleições tenham acesso a esses debates. E o Livre elegeu, é um facto, independentemente do que aconteceu depois com aquele lamentável episódio – culpa do próprio partido, dados os critérios de escolha dos/as candidatos/as – a envolver a sua cabeça de lista por Lisboa. A lei está do seu lado e por certo tal será reconhecido, queiram-no ou não os gestores e os diretores de programas das televisões. Será justo.
PS – Naturalmente, concordo também, em termos mais genéricos, que todos os partidos sejam incluídos em debates equitativos.