No campo da criação artística e literária, ou no das ideias políticas e filosóficas, a intervenção das vanguardas é fundamental para a afirmação do novo que sempre acompanha a abertura de caminhos em direções não experimentadas e fecundas. A palavra vanguarda vem, aliás, da antiga literatura militar, servindo noutros séculos para identificar o pequeno e móvel corpo de batedores que se movia muito à frente dos exércitos, reconhecendo os terrenos por onde seguiria depois o grosso das tropas ou onde se travaria a batalha, e identificando o tamanho, a capacidade e a disposição do inimigo.
Na guerra, seja a travada violentamente no terreno ou aquela que acompanha as grandes mudanças políticas e culturais, o papel das vanguardas é, pois, crucial. Escapando ao comum, são elas a reconhecer novos caminhos, a inspirar os movimentos mais ousados, a descobrir sentidos para o futuro, contribuindo de forma determinante para que a história não estagne ou regrida. São compostas por minorias, usam linguagens inusitadas, mostram-se com roupagens singulares, desenvolvem hábitos que não são os de toda a gente, seguem sempre a contracorrente. E deve mesmo ser assim, pois de outro modo não cumpririam a sua função, que tanto pode ser subversiva como a de um abre-latas.
Todavia, para nada servem se se fecham num casulo, contentes consigo próprias, num processo de autocelebração que acaba por contrariar aquele que é o seu destino natural. Procuram então afastar-se do resto do mundo, sem um rosto visível, sem morada conhecida, usando linguagens cifradas ou iniciáticas, rejeitando, como se de um contágio se tratasse, o menor contacto com o senso-comum. Tornam-se desta forma supérfluas, cumprindo um papel oposto ao que lhes está destinado. Repetem processos, incluindo aqueles utilizados por vanguardas do passado, perdendo o dinamismo e tornando-se retaguardas.