Não recordo o momento preciso em que deixei de ler só banda desenhada ou os livrinhos da coleção «Seis Balas», e passei a ocupar-me com volumes inteiros de centenas de páginas. Talvez por volta dos dez, quando atravessei a fase Enid Blyton, logo seguida da Emilio Salgari e da Júlio Verne. Mas desde essa época mantenho um hábito inalterado: jamais ler um livro sem ter à mão um lápis, para o sublinhar e anotar nas próprias páginas, ou então, se o não puder fazer, numa folha A4, dobrada em quatro, que serve também de marcador. Agora, quando sobretudo no campo da teoria leio mais em formato digital, faço a mesmíssima coisa, uma vez que os programas de leitura eletrónica já permitem o expediente.
É claro que esses aditamentos só para mim servem – certas vezes são apenas sublinhados, setas, reticências, pontos de exclamação, ‘notate bene’, traços perpendiculares retos ou ondulados, palavras dentro de círculos que os outros julgarão crípticas -, mas são absolutamente essenciais para poder reutilizar aquele texto ou para memorizar minimamente determinados passos ou ideias nucleares. Faz-me, por isso, alguma confusão observar pessoas que lêem volumes inteiros de mãos nuas, virando simplesmente as páginas. É a sua forma de leitura e eu nada tenho com isso, mas fico sempre com a ideia de que, daquele modo, mais facilmente as palavras entram por um olho e saem pelo outro, perdendo-se a interação.