A característica marcante do que na cidade onde vivo desde 1969 se chamam os «coimbrinhas» – termo pejorativo quase caído em desuso, de que só os últimos «coimbrinhas» se servem para referirem uma entidade abstrata da qual sem o conseguirem se procuram excluir -, consistia em ver o mundo reduzido à escala dos estreitos horizontes da cidade pequena e provinciana que ia do Choupal à Figueira da Foz (apesar da universidade, para alguns críticos por causa dela, ou de parte dela).
Claro que existiam sempre casos de exceção, assumidos pelos que contra a corrente, e contra os pequenos poderes locais, se batiam por uma atitude cosmopolita e pela atenção à mudança. Quando cheguei à cidade, vindo da pequena vila beirã onde passava o tempo a ansiar por «conhecer mundo», habituei-me, como tantos jovens da minha e de outras gerações, a menosprezar aquela gente limitada, embora bastante autoconvencida. À «Lusa Atenas» dos textos memorialistas e da palavra oficial opúnhamos, jocosamente, essa «lusa, apenas» que era necessário combater.
Parece que esse distanciamento crítico já passou por bem melhores dias e – paradoxalmente, com a cumplicidade de muitas pessoas jovens, portadoras de uma doentia saudade de um passado que não viveram e mitificam, e desconhecedoras da tradição emancipatória que atravessou gerações – que os adeptos do «pequeno mundo» voltaram a pautar os destinos da minha Coimbra. Ao ponto, como reparei há dias num texto que me passou pelos olhos, de aquele miserável epíteto passar para alguns por elogio.