Como sabe quem a viveu ou tem algum conhecimento da história, ou pelo menos vê filmes e séries, a guerra aberta impõe situações de exceção que em tempo de paz seriam intoleráveis. É sempre uma suspensão da normalidade, quando a linha entre a vida e a morte estreita ao máximo e não deixa grande lugar para posições de desinteresse ou contemporização. Como afirma um antigo provérbio, «em tempo de guerra todo o buraco é trincheira».
Por este motivo, apesar de não ser realmente simpática – e poder em algum caso não ser inteiramente justa: não conheço o suficiente da situação concreta para poder afirmar que não existiu algum caso de excesso -, a medida do governo de Kiev de suspender a atividade de um conjunto de partidos pró-russos pode discutir-se, mas é absolutamente compreensível. Não o fazer seria como aceitar a presença no terreno de batalha de uma quinta coluna do inimigo.
É, aliás, particularmente hipócrita a posição de quem está agora a acusar o executivo de Zelensky de o ter feito nesta situação concreta, quando ao mesmo tempo defende regimes censórios e de partido único (a China ou Cuba, para dar só dois exemplos), ou aceita e justifica a iniciativa armada de uma tirania que mata ou detém os opositores, calando a palavra de quem se lhe opõe (é também o caso da Rússia). Em situações deste peso e gravidade importa sermos coerentes ou meter a viola no saco.