Ser membro de um partido político não é, só um idiota o pode confundir, propriamente como ser sócio de um clube de futebol. Para além do pagamento das quotas e da necessidade de agitar a bandeira de vez em quando, a pertença a um partido digno do nome implica um conjunto de partilhas e de solidariedades que tornam a pessoa parte de um coletivo solidário, cuja vida está muito para além de noventa minutos de cada vez e é uma componente essencial da democracia. Sem este grau de adesão, não faz sentido integrar um partido e, tendo dado esse passo, delegar necessariamente, por vontade própria, uma parte da autonomia individual.
Todavia, esta pertença não pode aplicar-se a todas as situações. Quem milita partidariamente não pode, se a direção do partido decidir que terá por missão cuspir na sopa ou bater na avó, fazê-lo efetivamente. Existe quem assim seja capaz de agir, sem dúvida: trata-se de gente fanática, ou órfã da própria consciência, que não tem vontade própria e atua por fé ou obediência. Mas existe também quem, não concordando com gestos dessa natureza, não os cumprindo, por solidariedade para com a direção do partido ou a família política a que pertence, também não levanta a voz para afirmar com clareza que deles discorda, tornando-se, desta forma, cúmplice por omissão.
Conheço bom número de casos desta natureza – de pessoas que discordam profundamente, mas ficam caladas ou contemporizam – nesta dramática circunstância da invasão russa da Ucrânia. Não apenas num momento como este, infelizmente, mas é ele que está agora em cima da mesa.