Quando falo para estudantes estrangeiros europeus do Portugal politico contemporâneo costumo dar o PSD como uma prova mais da influência perene da Revolução de Abril no nosso sistema. Ficam sempre um tanto baralhados quando lhes digo que o Partido Social-Democrata é desde a fundação em 1974 um partido de direita, habituados que estão nos seus países a associar a designação ao movimento trabalhista e à corrente marxista-democrática – chamemos-lhe assim, embora eu saiba que o termo não é muito preciso – que vem da Segunda Internacional. Aquela criada em 1889 por iniciativa, entre outros, de Friedrich Engels, para substituir a Primeira, destruída pelos conflitos intestinos entre os partidários de Marx e os de Bakunine.
É essa falsa identidade, aliás, um dos dramas existenciais do nosso caseiro PSD, consumido há quase cinquenta anos por convulsões físicas entre o que é, o que diz ser e aquilo que de vez em quando pretende passar a ser. Ainda assim, e talvez por falta de alternativa consensual ao Partido Socialista, foi-se mantendo como partido de poder apoiado num eleitorado despolitizado que nele foi votando, em boa parte, precisamente por esse motivo. Ou muito mais por ele que por qualquer convicção ou entusiasmo «social-democrata». Manteve-se também como um partido de caudilhos, sendo dos mais notáveis, pelas razões mais positivas, Sá Carneiro e Mota Pinto, ambos tragicamente desaparecidos, e, pelas más, Santana Lopes e Passos Coelho, os dois ainda a andar «por aí».
Pois é este partido que no sábado vai escolher, por voto dos militantes, o próximo líder. Longe vão os tempos dos congressos com as aparições espetaculares de Santana, a transformar o momento num drama de grande impacto televisivo. Desta vez, nem debate público há e os dois concorrentes apenas competem no cinzentismo das vagas propostas. Um limita-se a mostrar a postura desafiante de moço de forcados, enquanto o outro diz que os seu projeto, «é mais associado (…) à gestão de pessoas, de projectos, de envelopes financeiros de grande dimensão, à liderança de reformas e entrega de resultados», o que mais o assemelha a um candidato a fundos europeus. Depois não se admirem os seus se o partido for ultrapassado no voto pela faixa da direita.