Talvez não tenha sido suficientemente lembrado por estes dias o precedente ocorrido, em termos de apoios internacionais, durante a Guerra Civil espanhola de 1936-1939. Fica um relato muito sintético, talvez útil para quem insiste em defender uma não-intervenção externa que em determinados conflitos inclina os pratos da balança para um dos lados e apenas favorece o mais forte.
As tropas nacionalistas, insurgentes contra a República e a democracia, foram reforçadas desde o início pela ajuda militar directa da Alemanha de Hitler, usada, por exemplo, nos bombardeamentos de Guernica e de Madrid, e a da Itália de Mussolini, que enviou um corpo voluntários para a frente nacionalista, tendo também oferecido aviões e submarinos para o esforço de guerra de Franco. O Portugal de Salazar, embora se afirmasse neutro, enviou tropas voluntárias para combater pelos nacionalistas (a Legião Viriato, que se estima tenha englobado 6.000 combatentes) e permitiu o abastecimento destes com armas e logística através da fronteira, recusando a entrada de refugiados e reenviando os que passaram a fronteira para serem fuzilados pelos militares franquistas. Da Irlanda seguiram também 700 combatentes comandados pelo General Eoin O’Duffy, um histórico do IRA que no seu país chefiava os Camisas Azuis.
Em contrapartida, as tropas republicanas receberam escassíssima ajuda internacional: basicamente aquela proveniente da URSS (traduzida em assistentes militares e em algum armamento) e a das Brigadas Internacionais, compostas de militantes voluntários socialistas, comunistas e anarquistas de todo o mundo e ainda de numerosas pessoas, sobretudo intelectuais e artistas, que, a título individual, quiseram arriscar ou dar a sua vida para defender o governo legítimo da República Espanhola, mas que, sob pressão internacional de um Comité de Não-Intervenção criado sob a égide da Grã-Bretanha e da França, foram forçados a sair até novembro de 1938. Os governos de Londres e Paris optaram por ficar de fora, impondo um embargo à exportação de armas para Espanha que foi furado pela Alemanha e pela Itália e deixou o governo republicano entregue a si próprio, batendo-se contra um inimigo muito mais bem armado e apoiado.
Fotografia: Robert Capa, republicanos partindo de Barcelona para a frente de Aragão em agosto de 1936