Na escrita, a abreviatura utiliza um ponto final, algumas vezes um traço oblíquo, para indicar que aquela se trata de uma palavra incompleta, em condições de dispensar parte da original. Nas últimas duas décadas, o veloz processo de simplificação associado ao uso intensivo das comunicações em linha, não só aboliu o uso desse ponto indicativo, como ampliou de um modo avassalador todo esse processo de simplificação, estendendo a hipótese de recurso à abreviatura a praticamente todas as palavras, e chegando até a abreviar abreviaturas consagradas. Para quem ama verdadeiramente a sua língua ou a dos outros, pode, todavia, seja no processo da escrita ou no da leitura, tornar-se um tormento, como ainda há pouco dias, na última entrevista que concedeu, afirmou a poeta Ana Luísa Amaral.
Em alguns momentos terá uma dimensão prática, aumentando a celeridade da escrita, como acontecia já com a estenografia, mas não deixa de ser um processo de degradação. Todos os meus testes e exames levavam o aviso «não utilize abreviaturas», lembrando também que interpretava as palavras abreviadas como inexistentes. Poderiam ser usadas em apontamentos, mas jamais em textos formais, que requeriam cuidado e rigor. Naturalmente, nunca as utilizo no dia a dia, nem mesmo quando escrevo por SMS, Messenger, Twitter, Instagram ou WhatsApp. Evito também abreviaturas convencionadas: jamais grafo kg, mas quilo, por exemplo, e muito menos me sirvo de obgd, mt, tb ou bj. É claro que nada posso contra o seu uso pelos outros, mas este arruina sempre o efeito das palavras que me chegam.
[Originalmente no Facebook]