Humanos que somos, todos envelhecemos, todas envelhecemos. Uns muito depressa, outras de uma forma imperceptível. A diferença na era das redes sociais está em que não só o fazemos a céu aberto, mostrando de que modo o tempo vai marcando a nossa existência – embora exista sempre quem jamais torne pública fotografia sua -, como podemos ter à frente, usando-as enquanto termo de comparação, imagens sem rugas que chegam do passado.
Sou dos que considera os sinais que denunciam a passagem dos anos – as rugas, os cabelos brancos, corpos menos esguios – como podendo conter uma grande beleza. Nada tenho contra quem procura formas de atrasar o processo, mas impressiona pela negativa quem de tanto procurar esconder as pegadas do tempo se transforma num ser de plástico, perdendo o que de mais pessoal e biográfico o/a torna um ser irrepetível.
Todavia, essa não é a pior forma de envelhecer. A que perturba realmente é a de quem desde cedo perdeu o brilho do olhar e a abertura aos outros dos gestos e da voz, fechando-se no negro abismo da amargura, do desencanto e da contenção defensiva. A das pessoas que desde há muito pararam nesse triste apeadeiro, deixando, ainda que com saúde, de viver para a esperança e a felicidade, nada fazendo para enfrentar a usura da descrença.
Fotografia: Susan Sontag por Annie Leibovitz