Os portugueses que na noite eleitoral de ontem prestaram atenção aos canais nacionais com reportagens e espaços de comentário sobre as eleições no Brasil puderam ter um rápido e eloquente vislumbre daquilo que, nos últimos anos, brasileiros e brasileiras pacíficos e de bem tiveram de suportar diariamente no seu próprio país, ao ponto até de tantos terem decidido emigrar ou de terem deixado de expressar publicamente os seus pontos de vista.
Bastou ver a linguagem – a falada e a gestual – dos eleitores brasileiros e dos comentadores bolsonaristas a viver em Portugal. Um cortejo de ódio, de impropérios, de afirmações desconexas e fundadas em claras mentiras invariavelmente expressas em péssimo português, de frases de desdém e preconceito, de ignorância declarada, de violência verbal, por vezes no limiar dificilmente contido da agressão a quem não tenha a sua dose de fé cega no que chamam de «mito».
Escutar ao final da noite o discurso tranquilo, conciliador e esperançoso de Lula – sobre os seus defeitos, que também existem, falarei mais tarde – foi, neste sentido, um bálsamo. Mas ficou para muitos de nós, portugueses, pelo menos daqueles, em larga maioria, que não partilham dos mesmos códigos daquela espécie de gente, uma boa amostra do inferno em que tantas pessoas honestas e livres do Brasil têm vivido. E da luta difícil que têm agora pela frente.