Por um destes dias, se entretanto não mudar de ideias, procurarei escrever algo substancial e historicamente sustentado sobre o tique «obrerista» – sempre justificado no plano teórico, como é óbvio – que fez e faz com que muitos quadros de partidos e organizações ligados ao amplo e diversificado movimento comunista sintam o dever de, mesmo não tendo sido de facto operários, ao longo da vida se fazerem passar por tal.
Tenho largas dezenas de histórias que o documentam, a maioria resultante da investigação, mas também muitas chegadas da experiência pessoal. Talvez uma das mais interessantes seja a definição de José Estaline, em algumas das suas hagiografias, como «operário sapateiro». Na verdade, trabalhou apenas algumas semanas em Gori, na Geóriga, na oficina de sapataria do pai, devido a castigo por mau aproveitamento nos estudos.
Esta situação suscita-me algumas dúvidas, dado ter trabalhado como operário, mais propriamente como servente da construção civil, ao longo de cinco duros meses, quando vivi na clandestinidade no norte do país. Também ajudei, durante muito tempo, o meu avô e o meu pai como empregado de comércio. E fui ainda militar por três anos. Tendo redigido centenas de currículos profissionais, nunca me ocorreu ali colocar «operário, caixeiro e tropa».