Completaram-se ontem, 6 de janeiro de 2023, cinquenta anos de vida do semanário «Expresso». Fui seu leitor desde o primeiro número, saído ainda em pleno marcelismo como expressão de uma oposição consentida pelo regime, e durante mais de quatro décadas não perdi um só. Mesmo quando fora do país ou em algum lugar onde o jornal não chegava, tinha sempre um quiosque que guardava o meu exemplar. Boa parte desse tempo integrou um ritual das manhãs de sábado, comprando o «espesso» e lendo-o depois normalmente no café. Em particular o bom suplemento cultural, durante uma boa época designado «Revista», e deixando de lado a volumosa publicidade e o caderno de Economia, uma área que infelizmente jamais foi a minha praia. A partir de certa altura passei para a edição digital, que assinei e lia no tablet, libertando-me de vez daquele saco de papel que alguns leitores costumeiros e mais tradicionais ainda exibem como um emblema geracional.
Fui, entretanto, dando cada vez menos atenção ao jornal que continuava a pagar. A qualidade foi diminuindo, os artigos ficando mais pequenos, a componente cultural reduzida, emergindo um crescente sensacionalismo gráfico e de conteúdos. Tudo piorou com a chegada do governo de Passos-Portas, quando o «Expresso» se tornou o seu jornal oficioso, passando a expor uma visão do país e do mundo para mim cada vez mais insuportável. Até que em 2013 deixei de o assinar ou sequer de o ler. Custou-me fazê-lo e não apenas por ser hábito antigo. Por um lado porque deixei de ler cronistas e jornalistas honestos que ainda ali trabalhavam, por outro porque senti a animosidade de gente que não aceitou ter criticado publicamente o jornal. Já me passou pela cabeça regressar, mas sucessivos testemunhos de pessoas idóneas dizem-me que o semanário ainda tem vindo a piorar, agora até com matérias pouco fiáveis e mal redigidas. Resta-me, pois, a nostalgia do «Expresso» que foi.
A capa aqui reproduzida é a do primeiro número.