Sobre a recente grande manifestação protagonizada por muitos professores, a que a comunicação social deu um eco absolutamente inusitado por comparação com momentos análogos, eis os três motivos que, apesar de reconhecer a sua importância, me levam a não a apoiar de forma incondicional.
O primeiro, porque, apesar de ler os jornais todos os dias, e mesmo tendo sido professor por mais de quatro décadas, não estou suficientemente informado sobre as razões e eventuais negociações que conduziram à manifestação «unitária» de ontem, não apoiando iniciativas reivindicativas ou formas de luta, por mais justas que estas possam ser ou parecer, sem conhecer razoavelmente os seus motivos e metas.
O segundo, porque, conhecendo muito bem a situação de desprestígio social e de falta de condições de trabalho em que se encontra a generalidade dos professores, e também a valia de muitas das suas principais reivindicações nos anos mais recentes, não confundo a luta justa contra uma política injusta, e que sem dúvida merece ser alterada, ou em favor do ensino público, com a depreciação prioritária de um governo democrático que se ouviu ontem bradada na rua. Inclusive por muitas pessoas que até agora jamais se manifestaram pelos interesses da sua classe profissional.
O terceiro, que considero determinante, porque desconfio muito – ou melhor, muitíssimo – de uma iniciativa reivindicativa que inclui na mesma barricada pessoas de direita, algumas mesmo da mais extrema, e de uma parte da esquerda, sob a capa de um discurso que se está a revelar essencialmente populista e de intenções últimas bastante dúbias.