Uma das boas vantagens que tem trazido a massificação da Internet e das redes sociais traduz-se na forma muito fácil e rápida como estes dois fenómenos contemporâneos tornaram possível que praticamente qualquer pessoa seja capaz de disseminar informação pertinente e de partilhar a sua própria reflexão crítica. Com múltiplos e complexos problemas à mistura, e com muitos erros e desvios também, alguns deles gravíssimos, sem dúvida alguma, mas não são eles que estão em causa neste apontamento. Aquilo que aqui se pretende sublinhar é que essas capacidades positivas são em boa parte contrariadas pelo facto de um grande número de homens e de mulheres, tendo capacidade reflexiva e conhecimento para poder exprimir opinião de uma forma sustentada e crítica, ser incapaz de dialogar com ideias e problemas que transcendam aqueles de momento invocados, no domínio do imediato, no interior do seu próprio universo político.
Refiro-me aqui a uma espécie de espírito gregário que faz com que pessoas ligadas a determinados universos – partidos, organizações, movimentos sociais – apenas divulgue posições dos seus próprios companheiros de causa em circuito fechado, e só exprima ideias inteiramente conformes com a linha oficial, completamente expectável, do grupo ao qual pertence. Recusam deste modo todo o esforço prospetivo que enriquece a experiência humana e o debate democrático, como se participar neste de uma forma aberta traísse os programas e valores que defende. Desta atitude sistemática acaba por resultar um pensamento pobre, circular e dependente, profundamente expectável e cúmplice, feito apenas de ecos, aplausos e palmadas nas costas, e também de silêncios, e não assente na expressão de uma efetiva liberdade crítica. Um pensamento sem frescura, que ignora escolhas e reflexões de quem, aberto a um diálogo franco e plural, procura pensar para a frente e pela própria cabeça.